Por Arq. Katalin Stammer*
“…somos e sentimos, antes de raciocinarmos. É isso que nos faz humanos.”
Se em algum momento da história do design de interiores os ambientes eram …contemplativamente lindos mas “indesfrutáveis”, atendendo mais ao objetivo de causar inveja às visitas do que bem-estar a seus donos… isso, definitivamente, faz parte do passado. O “home-office” acelerou a percepção de que “…eu tenho uma casa…” e “…passo muitas horas nessa casa a partir de agora…”.
Projeto: Katalin Stammer Arquitetura e Design / Foto: Gus Benke
Personalização e humanização são as novas frentes do design para um novo morar. Entender quais são as prioridades de vida dos moradores e usuários é o novo desafio das marcas e profissionais da área de design e arquitetura que por muitos anos acreditaram que a beleza estética e a harmonização eram os principais parâmetros a serem seguidos. Muito mais do que isso, o design evoluiu a ponto de entender que “…está a serviço da emoção das pessoas…” e não se trata de um fim em si mesmo, como chegou a ser em determinado momento. É aquela sabedoria somente atingida pela maturidade, que o torna mais humilde. E, se estamos falando de pessoas, estamos falando de “…sensações e emoções…”. Os estudos e inovações relacionados a neurociência iniciados no início dos anos 2000 abriram novas possibilidades no sentido de entender como, e de forma cada vez mais crescente, o ambiente pode ser um indutor de sensações e emoções. O tripé composto por estudos de antropologia, neurociência e design traz à luz o que chamamos de design sensorial enquanto disciplina, como uma referência aos profissionais que agora descobrem, juntamente com estudos científicos, que os seres humanos possuem não somente 5 sentidos (tato, olfato, visão, paladar e audição), mas ao menos 20 sensações mapeadas atualmente pela ciência. Isso quer dizer que, quando tomamos consciência dessa complexidade maravilhosa, podemos usá-las a nosso favor para melhorar a experiência dos usuários, potencializando certas percepções humanas para promover bem estar e harmonia. Para isso já existem ferramentas como a Sensory Design Methodology, estruturada para pavimentar esse caminho. A personalização significa conseguir estar aberto a compreender o que é relevante para o cliente elaborar a equação certa desse espaço considerando suas memórias, sua identidade, seu entorno, suas aspirações, compondo esse olhar ao seu modo de viver. Essa evolução do design sensorial aplicado ao ambiente reorganiza toda forma de trabalhar interiores e arquitetura, e requer dos profissionais e fornecedores dessa área novas posturas de trabalho. Produtos e matérias-primas também necessitam permitir mais flexibilidade, funcionalidade e composição para entrarem nos ambientes consolidando a “…proposta sensorial…” do projeto desse conjunto único que o cliente espera sentir quando entrar no seu espaço. Um vasto campo que consolida um momento muito importante do design e da forma que utilizamos nosso entorno, fortalecendo a chamada quarta cultura, onde arte e ciência se encontram para potencializar as experiências humanas com maior entendimento de quem somos e para onde vamos.
*Katalin Stammer: Arquiteta, urbanista (UFPR) e Designer de Móveis (CEFET PR), com intercâmbio na Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo – Universidad de la República, Uruguay (FADU – Udelar), possui experiência na área de projetos de interiores comerciais e residenciais com foco em design sensorial, projetos de estratégia corporativa e inovação. Premiada com projetos em mostra de decoração Casa Cor PR e com coordenação de equipe de alunos em concurso tendo como prêmio viagem à feira Isaloni em Milão – Itália. Diretora da Escola Curitibana de Design e autora do Sensory Design Methodology. Autora da linha de luminárias Caboclos do Brasil, linha de tapetes Coleção Conexões entre outros projetos de produto e mobiliário. Palestrante sobre inovação e design em diversos eventos de relevância nacional e internacional.